Este post não trata do Pecado Original, por mais que o título possa parecer.
Tive a felicidade de conviver por um bom tempo com meu avô paterno, José Antônio da Rocha, mais conhecido como José Menino. Em minha adolescência e juventude, durante os dias em que passava férias na casa dele, nas cercanias da querida cidade de Campos Gerais, em Minas Gerais, passávamos horas conversando - eu mais ouvindo as suas histórias e estórias. Ele, então já doente, com dificuldade de respirar, falava manso e pausadamente, o que aumentava e prendia minha atenção.
De certa feita me contou a história de como uma Jibóia capturava um boi, e engolia-o por inteiro: a Jibóia, uma das maiores cobras do mundo, ficava em alguma touceira de mato à beira do trilho por onde o gado passava, enrolada em algum arbusto mais forte. Quando passava o último boi, ou novilho, ou bezerro, já distanciado do rebanho, a Jibóia - que não possui veneno - dava o bote, mordendo e enrolando-se na anca do boi. O boi assutava-se e tentava libertar-se da cobra, correndo e escoiceando, saltando e chifrando o ar. A Jibóia, presa ao arbusto, ia esticando-se, dando corda para o boi saltar. Dizia meu avô que chegava a ficar da espessura de um dedo - parte da história ou estória a parte... Após algum tempo o boi cansava e parava de espernear. A Jibóia então começava a contrair-se, puxando o boi para perto da moita na qual permanecia presa, enrolando-se mais no corpo do boi e apertando-o mais ainda. Já tendo tomado algum fôlego o boi recomeçava a tentativa de soltar-se, saltando, escoiceando e chifrando... "Até levantando poeira do mato", disse. Em vão. Até cansar-se novamente. A Jibóia então trazia-o e enrolava-se mais um pouco no corpo do boi, diminuindo cada vez mais a capacidade de respiração dele. Esta luta permanecia assim, então, por minutos sem fim. Até que o boi, completamente exausto, caía por terra, quase sem poder respirar. A Jibóia então soltava-se da moita à qual prendera-se e envolvia completamente o boi, começando das ancas em direção à cabeça. Envolto o boi, começava a contrair-se, e, segundo meu avô, "dava para ouvir os estalos das juntas rompendo-se e dos ossos da costela partindo-se". Finalmente, depois de prensar o boi com seu abraço mortal, a Jibóia começava a engoli-lo pelo focinho, até o boi sumir completamente pelo rabo e patas traseiras em sua enorme boca.
É claro que fiquei impressionado com a história - ou estória - e, mesmo acreditando em meu avô - que fôra boiadeiro por um bom tempo de sua vida até casar-se com minha avó, Maria Vitória - fiquei pensando porque é que alguém assistiria, paciente e impávido, à uma terrível cena dessas, nada fazendo para salvar o boi...
Meu avô terminou de contar o causo e, após a costumeira pausa, olhando fixamente para mim, concluiu:
- Assim também é que o Diabo nos engole e nos leva para o inferno. Ele se prende, à beira de nosso caminho, nossa vida, à espreita de passarmos desavisados, sozinhos, desligados da família e das coisas de Deus. Então dá o bote: a tentação para pecarmos. Pecamos, e logo em seguida vem o remorso, a tristeza, o arrependimento... Feridos, tentamos em vão lutar contra a culpa: pedimos perdão e juramos não mais pecar. E novamente vem a tentação, e novo pecado... e lá vamos nós de novo: nova luta, novo cansaço... Até que, cansados, fracos, desistimos: "Não tem jeito, Deus não me perdoará mais... Vou pro inferno"! E então, somos engolidos!
Perguntei, então:
- Mas vovô, o que podemos fazer então? Se nem o boi, com sua força, consegue livrar-se deste bote, deste terrível destino?
E ele disse:
- Nas nós temos a palavra, a orientação, a proteção e a infinita misericórdia de Deus! Se seguirmos o caminho que Ele nos indica, não cairemos na armadilha. Se formos atacados e presos pelo pecado, Ele já nos libertou pela morte de Seu único filho, e nos dará força para lutarmos durante todos os dias contra a tentação, até o último momento de nossas vidas. Esta é a diferença: só nos deixaremos levar se desistirmos, e é exatamente isso que o Diabo quer de nós: que desacreditemo-nos de Deus e de Seu perdão. O boi só é engolido porque se entrega!
Até hoje guardo comigo a emoção que estas palavras me causaram.
Tive a felicidade de conviver por um bom tempo com meu avô paterno, José Antônio da Rocha, mais conhecido como José Menino. Em minha adolescência e juventude, durante os dias em que passava férias na casa dele, nas cercanias da querida cidade de Campos Gerais, em Minas Gerais, passávamos horas conversando - eu mais ouvindo as suas histórias e estórias. Ele, então já doente, com dificuldade de respirar, falava manso e pausadamente, o que aumentava e prendia minha atenção.
De certa feita me contou a história de como uma Jibóia capturava um boi, e engolia-o por inteiro: a Jibóia, uma das maiores cobras do mundo, ficava em alguma touceira de mato à beira do trilho por onde o gado passava, enrolada em algum arbusto mais forte. Quando passava o último boi, ou novilho, ou bezerro, já distanciado do rebanho, a Jibóia - que não possui veneno - dava o bote, mordendo e enrolando-se na anca do boi. O boi assutava-se e tentava libertar-se da cobra, correndo e escoiceando, saltando e chifrando o ar. A Jibóia, presa ao arbusto, ia esticando-se, dando corda para o boi saltar. Dizia meu avô que chegava a ficar da espessura de um dedo - parte da história ou estória a parte... Após algum tempo o boi cansava e parava de espernear. A Jibóia então começava a contrair-se, puxando o boi para perto da moita na qual permanecia presa, enrolando-se mais no corpo do boi e apertando-o mais ainda. Já tendo tomado algum fôlego o boi recomeçava a tentativa de soltar-se, saltando, escoiceando e chifrando... "Até levantando poeira do mato", disse. Em vão. Até cansar-se novamente. A Jibóia então trazia-o e enrolava-se mais um pouco no corpo do boi, diminuindo cada vez mais a capacidade de respiração dele. Esta luta permanecia assim, então, por minutos sem fim. Até que o boi, completamente exausto, caía por terra, quase sem poder respirar. A Jibóia então soltava-se da moita à qual prendera-se e envolvia completamente o boi, começando das ancas em direção à cabeça. Envolto o boi, começava a contrair-se, e, segundo meu avô, "dava para ouvir os estalos das juntas rompendo-se e dos ossos da costela partindo-se". Finalmente, depois de prensar o boi com seu abraço mortal, a Jibóia começava a engoli-lo pelo focinho, até o boi sumir completamente pelo rabo e patas traseiras em sua enorme boca.
É claro que fiquei impressionado com a história - ou estória - e, mesmo acreditando em meu avô - que fôra boiadeiro por um bom tempo de sua vida até casar-se com minha avó, Maria Vitória - fiquei pensando porque é que alguém assistiria, paciente e impávido, à uma terrível cena dessas, nada fazendo para salvar o boi...
Meu avô terminou de contar o causo e, após a costumeira pausa, olhando fixamente para mim, concluiu:
- Assim também é que o Diabo nos engole e nos leva para o inferno. Ele se prende, à beira de nosso caminho, nossa vida, à espreita de passarmos desavisados, sozinhos, desligados da família e das coisas de Deus. Então dá o bote: a tentação para pecarmos. Pecamos, e logo em seguida vem o remorso, a tristeza, o arrependimento... Feridos, tentamos em vão lutar contra a culpa: pedimos perdão e juramos não mais pecar. E novamente vem a tentação, e novo pecado... e lá vamos nós de novo: nova luta, novo cansaço... Até que, cansados, fracos, desistimos: "Não tem jeito, Deus não me perdoará mais... Vou pro inferno"! E então, somos engolidos!
Perguntei, então:
- Mas vovô, o que podemos fazer então? Se nem o boi, com sua força, consegue livrar-se deste bote, deste terrível destino?
E ele disse:
- Nas nós temos a palavra, a orientação, a proteção e a infinita misericórdia de Deus! Se seguirmos o caminho que Ele nos indica, não cairemos na armadilha. Se formos atacados e presos pelo pecado, Ele já nos libertou pela morte de Seu único filho, e nos dará força para lutarmos durante todos os dias contra a tentação, até o último momento de nossas vidas. Esta é a diferença: só nos deixaremos levar se desistirmos, e é exatamente isso que o Diabo quer de nós: que desacreditemo-nos de Deus e de Seu perdão. O boi só é engolido porque se entrega!
Até hoje guardo comigo a emoção que estas palavras me causaram.
E graças ao exemplo de fé de meus avós, de meus pais, tenho a certeza que sempre poderei contar, assim como todos nós, com a orientação, a proteção e a infinita misericórdia de Deus.
Posso falhar, posso pecar, como ser imperfeito que sou...
Mas jamais serei engolido!